Tontice_em_flor
A buganvília caiu para cá
A oliveira cresce e ampara a queda
Abro a janela para a passarada entrar
A luz acrescenta na finura dos cantos
O brilho foge em nuvens secas
Mais lá as paredes ressoam o ladrar de um só
O padre regressa às missas a velha sorri sem dentes
A buganvília sacode em abraço íntimo a vizinha
Ensonado em preguiça alonga-se no toque macio
escapa no olhar inquieto saltitão felino
O rio vai na dança
Hoje outro hoje
A escada rola vazia corpos domesticados gritaria
A máquina tritura o grão chinfrim
Orelhas brancas brincos de fala
Uma delas sacode-se de mala eco rolante
Corpos embalados em licra esponjam
Traços de gente febril sem queixume o gato ronrona
A buganvília trepa a oliveira ambas
Todos como eu emparelhados nas nuvens
O brilho espreita e aquece mais a cor cores
Viajo nos dias separo-me da buganvília que abraça
O sol aperta o olhar a pele pestaneja em aguadas de sal
Salpico o vento de mim quanto do ar me toma eu tomo
Quanto do caminhar vou desenhar
Outros dias hoje
Venteia na luz quente vem da ria
Tempero o estar em sal pinguento urze
Espraio o desassossego em areia movediça leve
Gelam-se-me os pés na frieza da luz sombra
Dias esfumados riscados cadernos de escrita
Hoje
Aferrolho a luz que fissura a pele
Conforto-me na silhueta das palavras que entreguei
Tropeço no escuro pestanejo o silêncio
Não te pertenço pico-me na buganvília
Não há pingos de lá o rio abonança os abraços
Soltam-se os desejos em trepadeira espinhosa
Amanhã
Levantarei o chão tomarei uma flor
eugeniohenrique 27/7/2023