terça-feira, 16 de março de 2021

traço_destraçado | 040


sempre

repouso o olhar espaço | o rio leva | solto o salto para lá | espelho  imagem | desejo inquieto | bailam em linhas de pauta | desassossego de sinfonia cantoria pássaros magia | putos diria | quanto de mim desejas  quanto de mim canto no rio de lá | desafogo traços de água imagem mágoa |  lanço laços que me apertam a eles | a luz brinca esconde e vem mas sempre há | e com eles desinço o amargo da amargura do vazio | escandindo o olhar imagem da imagem | escavando palavras | quanto olhar repousa em mim verdes azuis todas | entoação | salpicos | de quem quer espaço | o rio não pára agita-se em baloiço menino | devagar devagarinho | a voz do silêncio | medo de ser traço informe | janela sem ver |  dedilhas na nuvem que te acolhe | em seres assim | um dia memória no fim| 

eugeniohenrique 16/03/21

traço_destraçado 039

 Postigar


saltito nas imagens que ondulam no rio frio

os galhos vibram com o vento que zumbe em sopro

pássaros desenham as palavras no olhar que olho

brincam em ondas de pirralhos garatujam 

o frio da chuva atalha abraços passos caminho só

despidas em batutas as árvores inquietam pestanejo

o ponto que brilha na tela acasala o aroma de nada

vai e vem de poucos que tilintam o sabor deste canto

apressam os traços que o sopro sopra e vão 

em gotículas que trauteiam o medo da noite cedo

galgo no aroma que me aquece e voo nas margens 

doem os dedos da escrita que não escrevo

escavo palavras na corrente que corre para lá

afundo o olhar no meu colo Rilke

no embalo que me embriaga a noite vem

tenho-me no sono e chove desassossego 

harpejo na distância 

o postigo estreito


eugeniohenrique 11/03/21