quinta-feira, 27 de julho de 2023

traço_destraçado | 065

 Tontice_em_flor

A buganvília caiu para cá

A oliveira cresce e ampara a queda

Abro a janela para a passarada entrar

A luz acrescenta na finura dos cantos

O brilho foge em nuvens secas

Mais lá as paredes ressoam o ladrar de um só

O padre regressa às missas a velha sorri sem dentes

A buganvília sacode em abraço íntimo a vizinha 

Ensonado em preguiça alonga-se no toque macio

escapa no olhar inquieto saltitão felino 

O rio vai na dança 

Hoje outro hoje 

A escada rola vazia corpos domesticados gritaria

A máquina tritura o grão chinfrim 

Orelhas brancas brincos de fala 

Uma delas sacode-se de mala eco rolante 

Corpos embalados em licra esponjam 

Traços de gente febril sem queixume o gato ronrona 

A buganvília trepa a oliveira ambas

Todos como eu emparelhados nas nuvens

O brilho espreita e aquece mais a cor cores 

Viajo nos dias separo-me da buganvília que abraça 

O sol aperta o olhar a pele pestaneja em aguadas de sal

Salpico o vento de mim quanto do ar me toma eu tomo

Quanto do caminhar vou desenhar 

Outros dias hoje 

Venteia na luz quente vem da ria

Tempero o estar em sal pinguento urze

Espraio o desassossego em areia movediça leve

Gelam-se-me os pés na frieza da luz sombra

Dias esfumados riscados cadernos de escrita

Hoje

Aferrolho a luz que fissura a pele 

Conforto-me na silhueta das palavras que entreguei

Tropeço no escuro pestanejo o silêncio 

Não te pertenço pico-me na buganvília

Não há pingos de lá o rio abonança os abraços

Soltam-se os desejos em trepadeira espinhosa

Amanhã 

Levantarei o chão tomarei uma flor  

eugeniohenrique 27/7/2023