segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

traço_destraçado | 071

  

Dormente


vai nas margens dos poetas o rio longo | corre sem pressa na lama que inventa | deixa no leito ondas de choro que amamenta | salpicado de canto manto vai no espanto | espelho | na água dedilho os desenhos que vão | traços de nada | desnudada em colo leva a mágoa | água que lava leve | escritas de gente que naufraga | margem | danço na água o meu pranto | o rio vai na nuvem que mexe | sorriso que adormece arrefece | o céu tosco chapina no vento | agitam-se os poetas | comédia submersa | impávido o remo rema na água do rio | palavras em pingos na corrente | grasnar lento | silvos densos tremura | patinhar em charco de trapos trespassados do sopro | nas margens os poetas agitam o borbulhar do ar sufoco | levantam-se do pó 

que os desfigura em morte de ser | calem-se os gritos dissonantes políticos arrogantes | calem-se os pássaros os cantores | calem-se as dores de parir para nada | mágoas que o rio leva | noites de traços que inundam de bestas | gemidos que os poetas em nascer vaporizam de morte a lama que o rio inventa | sorte


eugeniohenrique 8/01/2024