segunda-feira, 18 de março de 2024

Traço_destraçado | 072

 apneia


Estou aqui ontem também mas não como já 

O quente do ar que me afaga de mansinho

O silêncio perdido na máquina que me abraça

Passa em água ninho a barcaça devagarinho

Árvores vestidas de ramos que dançam para lá 

Gemidos de gente que se agarra ao pente do vento

Invento no canto onde estou trémulo na escrita

Frágil nos desenhos que revejo aqui

O tempo sopra na minha dança sacode o que tento

Ter no ar quente febril a manga arregaçada no olhar

O espaço que me assenta molda o corpo que se esmaga 

No perfume medicinal de ontem também agora

Traquejo no bote as viagens trajetos linhas

Reduzo a figura que embalo na ausência

Vou volto em correria febril respiro ventos

Ais de quem se esmaga no medo eu também


eugeniohenrique 38/2/2024


segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

traço_destraçado | 071

  

Dormente


vai nas margens dos poetas o rio longo | corre sem pressa na lama que inventa | deixa no leito ondas de choro que amamenta | salpicado de canto manto vai no espanto | espelho | na água dedilho os desenhos que vão | traços de nada | desnudada em colo leva a mágoa | água que lava leve | escritas de gente que naufraga | margem | danço na água o meu pranto | o rio vai na nuvem que mexe | sorriso que adormece arrefece | o céu tosco chapina no vento | agitam-se os poetas | comédia submersa | impávido o remo rema na água do rio | palavras em pingos na corrente | grasnar lento | silvos densos tremura | patinhar em charco de trapos trespassados do sopro | nas margens os poetas agitam o borbulhar do ar sufoco | levantam-se do pó 

que os desfigura em morte de ser | calem-se os gritos dissonantes políticos arrogantes | calem-se os pássaros os cantores | calem-se as dores de parir para nada | mágoas que o rio leva | noites de traços que inundam de bestas | gemidos que os poetas em nascer vaporizam de morte a lama que o rio inventa | sorte


eugeniohenrique 8/01/2024