terça-feira, 13 de dezembro de 2022

traco_destraçado | 057

 abanos_olhares


Águas inquietas ondulam para a nascente | o brilho intenso faz-me semi cerrar os olhos | pestanejo entre linhas que dançam devagar libertando o ouro que os pés arrastam em tonalidades sonoras de outono | dois cães param e olham no meu olhar não sei que lhes diga e porventura não saberão  nada do que lhes poderia dizer | postam-se em abanos de aparente bem estar | traquejam o vento que lhes pincela o rosto | não ladram não se zangam não fogem de mim | tomamo-nos no mesmo interrogatório entre nós uma árvore a desfolhar um naco de relva mal amanhada que se inclina descendo até eles subindo até mim | sentimos o toque do silêncio da água que vai o silencio do vento traquinas o silêncio da voz que inventamos | por um momento só este reparo de olhar o brilho que me amolece e eles também


eugeniohenrique  7/12/22