sábado, 31 de dezembro de 2022

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 escrevonulonge


Ausente em cansaço abro a portada do vento que golpeia o tamborilar dos desejos esparsos | as palavras crepitam no seco | a aragem estreita-me na lonjura febril | contorço a planura no eco do olhar embaciado | tomo no aroma a manhã esguia em dança de sabores | suores que se atam na pele toda| sopro do fogo ardente sussurro lento | escavo nas palavras que não são de mim  embebedo-me do palavrear | ausente o abraço embaraço aroma de pinha leve água balanço | pingos de inquietude inundam o arfar | a pele estala em timbre violetas | as pétalas no vagar aromatizam o sabor perdidas no marulhar dos corpos afundados | vestes no tempo o vento que vem da pele dedilhada adágio meu | escrevo nu longe.


eugeniohenrique 31/12/2022




terça-feira, 13 de dezembro de 2022

traco_destraçado | 057

 abanos_olhares


Águas inquietas ondulam para a nascente | o brilho intenso faz-me semi cerrar os olhos | pestanejo entre linhas que dançam devagar libertando o ouro que os pés arrastam em tonalidades sonoras de outono | dois cães param e olham no meu olhar não sei que lhes diga e porventura não saberão  nada do que lhes poderia dizer | postam-se em abanos de aparente bem estar | traquejam o vento que lhes pincela o rosto | não ladram não se zangam não fogem de mim | tomamo-nos no mesmo interrogatório entre nós uma árvore a desfolhar um naco de relva mal amanhada que se inclina descendo até eles subindo até mim | sentimos o toque do silêncio da água que vai o silencio do vento traquinas o silêncio da voz que inventamos | por um momento só este reparo de olhar o brilho que me amolece e eles também


eugeniohenrique  7/12/22


segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

traço_destraçado | 056

 nosdesenhosquedesenho


Declaro-me em guerra à guerra desenho no negro covas para os fazeres da guerra atiro-me na trincheira | aviões de papel laços de silêncio picam as gotas palavras inteiras mães brincadeiras beijos todos sopro de sol colo de pele sineta em chilros bolas de papel vozes roucas desenhos na terra os putos gargalham bandeiras desfraldam poemas vazios | atiro-me na trincheira farto de guerra faço guerra à guerra | garatujas febris escorridos em linhas vadias cruzo cruzes no tecido do abandono rebolo inquieto sonos esgotados | em guerra |estou


eugeniohenrique  5/12/2022